Vejamos que, com o passar do tempo, aprendemos a guardar a pouca energia que já não nos resta.
Não digo evitar discussões, porque quem está realmente esgotado manda logo um “vai se fuder”. Eu diria: evitar o encontro, o mesmo ambiente, o mesmo ar — a mesma presença.
Talvez seja sobre idade, ou maturidade, mas cheguei à conclusão de que não irei mais viver a vida dos outros. Refiro-me a caber na realidade que o outro quer impor.
Um exemplo prático e realista da minha vida:
“Meu pai vai passar o Natal com os amigos. Ele faz aniversário dia 24. Eu não os suporto. Porém, para agradar meu pai — que não quer pagar um restaurante ou uma ceia comigo e com minha irmã, uma escolha obviamente dele, já que é mão fechada — terei que aturar insultos sobre o jeito que levo minha vida, insinuações sobre meu posicionamento político e social, meus hobbies, e ainda, por cima, suportar olhares desejosos e repugnantes de velhos ou de caras extremamente nojentos, em qualquer sentido da palavra.”
Quer outro exemplo?
“Família da mamis, na qual não se pode falar de religião, ciência, nem colocar as músicas que gosta; suportar insultos como ‘biscate’ e ainda ver a violência verbal ser diminuída sob o rótulo de ‘mero ato de carinho familiar’.”
Ou seja, nunca posso ser eu. E, quando abro a boca para me impor, sou a pior da minha família.
Não. Não acredito que o Natal se trate de família, tampouco de Cristo, mas sim de perpetuar ciclos infinitos de dor, em nome do contentamento de…
Ninguém.
Thainá Domingues Benasse







