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domingo, 18 de maio de 2025

Ninguém

Ninguém.

Ninguém dava nada por mim — nem eu mesma.

"Essa menina é burra."
"Não vai longe."
"Má influência."
"Preguiçosa."
"Metida."

Eu sorria, mesmo diante das ofensas. Evitava o conflito, adocicava o ambiente, relevava demais.



Houve um momento, já mais velha, em que passei a desacreditar de tudo.

Desacreditei da vida, da sorte, de Deus... até da existência da minha própria respiração, que se prendia no peito.

Afogava-me na bebida, em saídas sem sentido… tudo fuga.

Correndo.
Seguindo.
Rastejando.

Na esperança de ser encontrada...

E não percebia que, no fundo, o que eu queria era me encontrar — encontrar a mim mesma, a criança que um dia foi julgada e que ainda vivia dentro de mim.

Hoje, ela se prova forte.
Dona dos próprios sonhos.
Realizadora da sua própria eternidade.



Pelo menos, da eternidade do seu bem-estar.

Já percorri metade do caminho. Falta o resto — mas sigo.
Sigo seguindo.

Thainá Dominguês Benasse

5 comentários:

  1. Sensacional, parabéns!!! Um dom incrível que você tem, suas escritas tocam a alma!!! ♥️♥️

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  2. Você tem certeza que já está nesse processo de se encontrar? Ou ainda está na esperança, mesmo que inconsciente, de ser encontrada?

    Falo isso com carinho, porque percebo que você se expõe muito — e essa exposição, por mais bonita ou forte que pareça, às vezes também revela feridas abertas.

    Isso pode ser perigoso. Ainda mais na internet, onde nem todo mundo que se aproxima vem com boas intenções.

    Às vezes, quando mostramos demais nossa solidão, a gente acaba atraindo pessoas que parecem preencher um vazio, mas que só pioram a bagunça. E depois... elas custam a sair da nossa vida — se é que saem.

    Cuida de você, tá? Tem força no que você escreve, tem verdade... mas lembra de proteger o que é mais precioso aí dentro.

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    Respostas
    1. Olá, boa noite.
      Vamos por partes.

      Se você leu até o final da minha postagem, vai perceber que a frase “sigo seguindo” responde à sua pergunta.
      Para nos mantermos em equilíbrio, é preciso estar em movimento.
      Todos nós estamos em processo de nos encontrar. Não existe fórmula. E qual seria o problema em querer ser encontrada — e, nesse caminho, encontrar a mim mesma?

      Ressalto: o processo de se encontrar, ou de viver, não tem fórmulas prontas. Talvez seus pensamentos já condicionados digam que a forma como eu vivo é errada, frágil ou perigosa. Mas isso é apenas o reflexo da sua maneira de ver a vida.
      Não existe certo ou errado quando se trata de se curar. E, muitas vezes, ao nos curarmos, acabamos também curando o outro.

      Uso esse blog desde os meus 16 anos para abrir meu coração — e, de alguma forma, ajudar outras pessoas que talvez também estejam se buscando.
      Se isso te trouxe até aqui, espero que tenha vindo pelo desejo de compreender, e não de julgar. Talvez seja o momento de você também refletir sobre si mesmo.

      Sobre a solidão: ela faz parte da condição humana. Nascemos sós. Observar e acolher isso é um exercício de amadurecimento.

      Se alguém, em algum momento, fez você se sentir invadido ou desprotegido, lamento profundamente. Espero que consiga se libertar disso, deixar ir.
      Porque o que temos é o agora — e gastar energia emocional e física se prendendo ao medo do futuro é um caminho exaustivo.

      Espero que você também se cuide. A mente, muitas vezes, nos engana: ela julga por medo, bloqueia por mágoa, e repete padrões que só geram mais dor.

      E por fim:
      a proteção só é necessária para quem acredita que está sendo atacado.

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    2. Boa noite.

      Li com atenção sua resposta, e o que me chamou a atenção foi justamente o desvio sutil — e talvez inconsciente — daquilo que você mesma trouxe. Em sua narrativa, há um momento crucial em que a busca por ser encontrada se dissolve na necessidade de se encontrar. Esse movimento não me pareceu contraditório, mas revelador. E foi você quem traçou essa distinção, quase como quem acende uma luz em meio à névoa.

      Querer ser encontrada não é um erro — é humano, legítimo. Mas quando essa busca se torna condição para o encontro consigo mesma, abre-se um ponto de reflexão: será que estamos realmente nos olhando, ou apenas esperando que alguém nos veja?

      Minha pergunta anterior não veio de julgamento, tampouco de uma tentativa de impor fórmulas. Ela nasceu da escuta — e talvez de uma inquietação semelhante à sua. Em minha própria trajetória, aprendi que a exposição pode ser tanto um grito quanto um espelho. Às vezes, ela revela a força; outras, revela onde ainda dói. Isso não diminui o gesto — apenas o torna mais humano.

      Você afirma que todos estamos em movimento. Concordo. Mas movimento, por si só, não garante direção. A repetição de passos também pode ser uma forma de fuga. E fugir, às vezes, é uma maneira sutil de manter intactas as feridas que ainda não tivemos coragem de tocar.

      A mente engana, sim — sobretudo quando cria discursos que nos afastam de perguntas incômodas. Nem toda dúvida é acusação; muitas vezes, ela é convite. A proteção, nesse caso, não é armadura contra um ataque, mas o cuidado silencioso com aquilo que ainda está florescendo.

      Sigo te lendo com respeito. Só te peço que, assim como escreve para se curar e talvez curar outros, também permita que certas perguntas penetrem, mesmo que de leve. Algumas delas não vêm para confrontar, mas para iluminar.

      Cuide-se — com verdade, com profundidade, com gentileza. E se, em algum momento, o desejo de ser encontrada ainda surgir, que ele venha como um eco do seu próprio chamado — e não como substituto do encontro que só você pode fazer com si mesma.

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