
Ela, estagnada, o viu de bruços no chão — como um feto com dor.
— Que dor... — dizia ele, num sussurro.
Perplexa, foi em direção a ele.
— Sai! Saiam! — Os olhos estalaram; ele estava com o rosto roxo e apertava o abdômen. Havia uma menina ao lado dele, exausta. — Você também — fuzilou-a.
— Eu estou com ele! — bradou a gorducha, irritada.
— Aqui do lado, mas quem está no meu coração... — vomitou ele, entre dores. — Ela... veio — disse por fim, com hálito de uísque.
— Vamos. Chega dessa ladainha — disse ela, por fim, pegando o braço dele e colocando sobre o próprio pescoço.
— Por... quê? — disse quase soletrando. — Está... tão linda? — Seu rosto estava feliz, mesmo inchado, detonado. Apoiava-se nela, a agarrava.
— Você fede — soltou ela, junto com suspiros.
— Olha... eu vim aqui sozinho... Ela apareceu, tá? — expressava ele sinceridade e mais vômitos.
— Não quero saber. Entra no carro! — ordenou por fim. Como o submisso que deveria — e deve — ser, entrou no carro. Ela abriu as janelas e pegou um pouco de gelo com o dono do bar, amigo de ambos.
Ele, no banco, sem coragem de encará-la.
— Pega a porra do balde se tiver vontade de vomitar. Não quero estragar o carro novo.
— Hey... — soltou depois de gorfar. — Você não respondeu. Por que está... tão, mas tão linda?
— Eu saí. Estava por aí... pegando carinhas. Você não tem nada a ver com isso.
Doeu. Ah, se doeu. Todavia, era troco merecido. Quantas noites chorou por perdê-lo — por sua vaidade, sua vontade, sua astúcia falseta.
— Não é do seu feitio. Conheço-te. Separamos por pouco tempo... — e regurgitou novamente.
— Chega, Adônis! — disse por fim. Nem parecia um homem belo naquele estado, refletiu ela.
Seus olhos estalaram como alertas.
— Me diz, Éris... você beijou outro? — parecia mais uma pergunta. Não, não beijara. Não teve a devida coragem. Não seguiu em frente. Mesmo com um vestido marcando suas curvas, uma maquiagem leve destacando a boca em formato de coração — não, não respeitou as regras da sedução. Fugiu, como um coelho, para o malfeitor. Aquele que trucidou seu pequeno coração. Socorreu-o. Precisava.
Não queria. Quiçá, ainda sentia o corpo que a tocara uma semana atrás — deslizando a silhueta na dela, beijando seu corpo, exalando seu perfume, apertando com delicadeza.
Ah... bons momentos que ficam na memória. Não sabia se jogava as lembranças fora, como ele expelia suas falhas naquele balde. Doente estava — mas mais do que ele.
— Chega. Você merece essa dor. Essa cicatriz, fixada, travada em seu coração. Como o fez comigo. Nem pestanejou — e eu o salvei de se afogar em seus vórtices. Irônico, eu... com todo meu prazer pela vida, regresso em seu anseio. Não compreendo meus sentidos. Estão falhos? — disse, em alta voz, seus sentimentos.
— Não sei... Só sei que quero você. Desejo você. Suas palavras, suas carícias, seus jeitos e manias, seus seios tocando meu peitoral, e nós rugindo de deleite.
— Você tá doente e falando injúrias. Deite e descanse. Não fiz mais do que minha obrigação. O dono é meu amigo, fiz por ele. Você estava dando bafão.
— Que seja... você veio.
O carro seguiu — como a mente dela.
'' Onde me meti...''
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