Diário Anacrônico
Segunda Parte
Capítulo Dois:
*Refutando para ela*
''Bem
vejo que o ímpeto não lhe deixou, ao menos dessa vez, rasgar a carta ou
reduzi-la a cinzas. Me rio disso enquanto observo subir um fio de fumaça do meu
cigarro.
Se te trair for ato listado entre meus pecados, tenho por certo que
foi apenas por esse cigarro, pelo qual sempre foste avessa, mas como mulher não.
As palavras que tua boca sempre relutou em proferir, logo tu que é tão
expressa, sempre me foram denunciadas por teus olhos. Imagino-os se explicando,
ou melhor, tentando fugir, nas linhas que me enviaste.
Por que ainda, depois de
tanto tempo, permaneces vacilante? Como pode, mesmo com o caminho que te
preparei até mim, indagar sobre coisa tão certa que é o que sinto por ti? É bem
certo que a distância que nos aparta é tal qual a existente entre o sol e a
lua, que eventualmente se encontram com o preço de jogar a terra em trevas.
Podemos tu e eu, nos encontrarmos novamente sem provocar tais trevas?
Quanto ao
sofrimento, não foi menor que o seu. A única diferença que temos, nesse
sentido, é que enquanto curo minhas feridas em silêncio tu insistes em ignorar
as tuas e perpetuar esse pranto confuso.
Não me demoro mais em letras, pois,
como bem sabes não se coloca finitude no que há entre nós, nem mesmo em
palavras. E assim sendo, essas mãos que pelo trabalho não são capazes, nem
intentam, ser as de um poeta, mas antes as de um homem rude não habituado às
letras, deixam aqui reticências. Cuide bem delas.
O meu nome, ou aquele que
apenas tu usas para me chamar, conheces bem. A data...
A
data será todos os dias que rememorares esta carta.
Com
amor, pesar, saudade e desejo,
Aquele que é teu sem que percebas.''
- Hamilton Barros
– Autor.
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